terça-feira, 31 de maio de 2016

Reflexão para todos os dias





"Talvez eu morra esta noite. Quem me 

assegura o contrário? Quantos que

morreram imprevistamente em pecado, e 

do leito se precipitaram no Inferno? Quem 

sabe será esta para mim a última noite da 

minha vida? O que seria de ti, ó minha 

alma, se tal acontecesse? Em que estado 

de alma te encontras? Na Graça, ou, em 

pecado mortal?"


(Manual da Pia União das Filhas de Maria, ob. 
cit., Cap. IV, p. 144).

Sábios conselhos... Fragmentos diários


Guarda-te do respeito humano


Contentar a Deus, há de ser sempre tua principal preocupação. "Teme a Deus e observa os seus mandamentos, porque nisto está o homem todo" (Ecl. 12,13). Lembra-te de que Deus é Teu soberano Senhor, a quem tudo deves agradecer e de quem dependes em qualquer circunstância; reflete que dentre poucos anos deverás comparecer perante Ele, que será Teu reto Juiz, a fim de lhe prestar contas de toda a tua vida, e que da Sua sentença dependerá a tua eternidade. Pondera, ainda mais, que os homens são criaturas frágeis, as quais hoje possuem a vida e amanhã desaparecerão no túmulo, e que da grandeza e fausto do homem mais rico, mais honrado e mais célebre, nada mais restará, senão um punhado de terra e pó. 

Guarda-te do respeito humano! No dia do teu Batismo e Crisma te colocaste solenemente sob o estandarte de Jesus Cristo. Ao receber este Sacramento, prometeste firmemente, que sempre e em todas as circunstâncias, havias de te conservar fiel a Jesus Cristo e a sua Santa Igreja. A bandeira de um rei da terra é muitas vezes defendida com grande coragem. Muitos soldados preferem sacrificar a própria vida entre ferimentos e dores atrozes, a entregar ao inimigo a bandeira do seu rei. Não deveria com igual, e mesmo com maior amor e entusiasmo, defender a bandeira isto é, os santos interesses de Jesus Cristo? É Rei que não sofre comparação com príncipe nenhum, por melhor e mais amável que este seja. São seus interesses tão dignos e elevados, tão justos e bons, tão santos e necessários, como os de nenhum outro rei; pertencem e se estendem a todos os homens, abrangem o tempo e a eternidade.

Não estarias, portanto, disposta a oferecer até a última gota de teu sangue pelo teu Divino Salvador e seus santos interesses, se necessário fosse? Intrepidez e firmeza são o que de ti espera o Senhor. Se na vida lhe permaneceres unida, sem respeito humano, Ele te recompensará por toda a eternidade como Sua fiel discípula; mas se te envergonhares, covardemente, dos seus interesses e te mostrares infiel a Ele então, como juiz te lançará no cárcere e te punirá severamente, o que declara, em verdade, com solene energia: "Aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu
Pai, que está nos céus; e o que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus" (Mat. 10,32). Como católica, não tens realmente, nenhum motivo de te envergonhar da tua Igreja.

Ainda não ouviste de certo, que uma jovem sadia e viçosa, se envergonhasse de sua próspera saúde, pelo fato de ter encontrado outra jovem desbaratada por alguma enfermidade contumaz. Nunca viste um homem, com os membros íntegros e perfeitos, corar de vergonha por ver outro, que só podia mover-se com o auxílio de muletas. Não tens, realmente nenhum motivo para te envergonhares da Santa Igreja que, no decurso de tantos séculos, manifestou uma admirável força divina; de todas as perseguições, até mesmo das mais violentas, saiu sempre vitoriosa; sempre rejuvenescida; sempre novamente robustecida; enquanto tudo, em derredor caía em ruínas, até mesmo os tronos e os reinos dos mais poderosos soberanos. Faze, pois, que te animem sempre aqueles grandes sentimentos de Santa Teresa, a qual ainda no seu leito de morte dizia: "Meu Deus, eu Vos agradeço por ser filha da Vossa Igreja". Não consintas jamais que te arraste o covarde respeito humano; nunca deixes de cumprir da maneira mais fiel os teus deveres para com a Igreja e trabalhar pelos seus interesses com zelo e sabedoria.

(Donzela Cristã- Padre Matias De Bremscheid, Ano De 1935)

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Sábios conselhos... Fragmentos diários


Uma fonte de energia, a oração


A oração é um colóquio de amor com Deus. A criança, que ama verdadeiramente os pais, gosta de falar com eles, manifesta-lhes tudo que agita o seu coração. Cada alegria que sente, vai logo comunicá-la à mãe, ou ao pai; expõe-lhes todas as suas dores; narra-lhes os seus receios; conta-lhes os seus interesses. Se a criança passasse com seus pais um dia inteiro, sem lhes dirigir uma só palavra, teriam muita razão em se queixar: nosso filho não nos ama, pois se nos amasse seria mais comunicativo conosco. É o que dará contigo, jovem cristã, se amares a Deus e Vosso Salvador, verdadeiramente, e de coração, sentir-se-ás necessariamente compelida a falar com Ele, a entreter-se com Ele, isto é, a rezar. A oração é para ti um dever sagrado, que não hás de omitir um só dia sequer. 

A oração te enobrece, a alma, quando reza, entra em relação íntima com Deus, infinitamente grande, infinitamente perfeito e santo. A luz de Deus, os raios da Sua santidade e magnificência atuam sobre ela. Deus a alumia e a penetra cada vez mais com Sua graça, a atrai cada vez mais para si, eleva-a e a enobrece. A alma, pela oração, torna-se semelhante a Deus. Aqui, também, viria muito a propósito o brocardo: "Dize-me com quem andas e dir-te-eis quem és". São Gregório Nazianzeno comenta: "Assim como o corpo se torna iluminado pela luz do sol, assim também a alma recebe a luz através dos raios da graça, na oração".

Se não rezas, jovem cristã intimamente renuncia a Deus, fonte única de tudo que é bom e nobre, e retornas à pobreza do teu próprio eu, que te arrasta para a miséria e para o pecado. Se não rezas, abdicas da tua verdadeira dignidade. Se rezarem bem, donzela cristã, estás a te apoiar humildemente em Deus e d'Ele, que é a força e poder infinitos, jorrarão a santidade e o vigor sobre a tua fraqueza. Sentir-te-á reanimada e fortalecida, de tal modo que poderás dominar as tuas más inclinações e exclamarás, então, como o Apóstolo dos gentios: “Tudo posso Naquele que me conforta” (Fil. 4,13). Como a oração nos comunica força sobrenatural contra os inimigos da nossa salvação, admoesta-nos o Divino Salvador: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação” (Mt., 26,38).

(Donzela Cristã- Padre Matias De Bremscheid, Ano De 1935.)

domingo, 29 de maio de 2016

Sábios conselhos... Fragmentos diários


O dia do Senhor





Um dos Santos Padres da Igreja denominou o domingo:“Rei e Príncipe de todos os dias”. Outro opina que a vida sem domingo seria um grande deserto sem oásis. Certamente seria uma vida triste. Pode-se dizer que o domingo é como que a raiz da semana. De uma raiz boa e sã, brotam também galhos, folhas, flores e frutos sãos e bons. De modo análogo, a um domingo cristãmente festejado, sucede uma semana inteira de cunho cristão. Consiste a vida do homem em certo número de semanas, as quais trazem impresso o selo do valor que lhes comunica o domingo, por onde começam. Com muita razão se poderia dizer: assim como for o teu domingo, assim será também toda a tua vida. De que modo deverá, então passar o domingo, para que se torne uma fonte de bênçãos para a tua vida e para a eternidade futura? Eis uma pergunta de grande importância para ti.

Em primeiro lugar o descanso dominical é uma necessidade para o corpo e para a alma. Poderá alguém trabalhar ininterruptamente, todos os dias, nos domingos e dias úteis, por um lapso do tempo; poderá fazê-lo mesmo durante alguns anos; mas, chegará com certeza o tempo em que as forças constantemente ativas entrarão a adormecer, ou se quebrarão de súbito. O descanso que, à tarde se desfruta, após o trabalho diário, e um bom sono pela noite adentro, são de grande proveito para o corpo; mas, quanto à duração não bastam para estabelecer o necessário equilíbrio das forças. Os médicos sustentam mui judiciosamente que, para se manter em pleno vigor, além do pequeno descanso diário, de tempo a tempo, necessita o corpo humano de uma pausa e folga mais longa, um maior relaxamento das forças.

Em segundo lugar, dia de piedade e oração. Não tenho dúvida em acreditar que também nos dias da semana, fazes a tua oração, máxime pela manhã e à noite, e que ainda com boa e santa intenção te entregas aos trabalhos diários e aceitas as contrariedades da vida, como se tudo pertencesse ao serviço divino. No entanto, isso não te basta; hás de consagrar, exclusivamente, um dia da semana, a Deus e a salvação de tua alma. Tudo o que és e tudo o que tens, a Deus deverás agradecê-Lo. Será, porventura, demasiado, que procures dedicar a Deus um dia da semana, santificando-o pela piedade? assistirás antes de tudo, regularmente, ao santo Sacrifício da Missa. Não há nenhum ato em que Deus mais se compraza, do que no Santo Sacrifício que seu próprio Divino oferece pelo ministério do sacerdote, na Santa Missa. Não existe, portanto, nenhum outro ato pelo qual possas honrar mais a Deus e santificar o domingo.

O domingo deve ser, finalmente, dia de alegria Quando digo que o domingo deve ser dia de alegria, refiro-me, antes de tudo, àquela alegria e àquela elevação espiritual e interior... Falo também da alegria que experimentas numa agradável conversa com os teus queridos parentes, na visita a uma boa amiguinha ou conhecida, numa serena e moderada recreação com outras companheiras ou num passeio coletivo que te proporciona o ensejo de admirares os encantos da natureza. São alegrias que poderás lograr depois dos trabalhos e fadigas de toda a semana; alegrias que te fazem forte e disposta para os trabalhos de uma nova semana; alegrias, que contêm uma abundância de benção para a vida doméstica, quando se desfrutam de maneira justa e razoável, depois de se ter devota e piedosamente, assistido ao serviço de Deus, ou praticado uma boa ação.  "Alegrai-vos incessantemente no Senhor; outra vez digo. Alegraivos!”(Filip., 4,4) Eis o que o domingo deve ser para ti – dia de descanso, de devoção, de alegria.

(Donzela Cristã- Padre Matias De Bremscheid, Ano De 1935)

sábado, 28 de maio de 2016

Quão poucos são os que amam a cruz de Jesus


Muitos encontram Jesus agora apreciadores de seu reino celestial; mas poucos que queiram levar a sua cruz. 

Tem muitos sequiosos de consolação, mas poucos da tribulação; muitos companheiros à sua mesa, mas poucos de sua abstinência. Todos querem gozar com ele, poucos sofrer por ele alguma coisa. Muitos seguem a Jesus até ao partir do pão, poucos até beber o cálice da paixão. Muitos veneram seus milagres, mas poucos abraçam a ignomínia da cruz. Muitos amam a Jesus, enquanto não encontram adversidades. Muitos O louvam e bendizem, enquanto recebem d’Ele algumas consolações; se, porém, Jesus se oculta e por um pouco os deixa, caem logo em queixumes e desânimo excessivo. Aqueles, porém, que amam a Jesus por Jesus mesmo e não por própria satisfação, tanto O louvam nas tribulações e angústias, como na maior consolação. E posto que nunca lhes fosse dada a consolação, sempre O louvariam e Lhe dariam graças.

 Oh! Quanto pode o amor puro de Jesus, sem mistura de interesse ou amor-próprio! Não são porventura mercenários os que andam sempre em busca de consolações? Não se amam mais a si do que a Cristo os que estão sempre cuidando de seus cômodos e interesses? Onde se achará quem queira servir desinteressadamente a Deus? É raro achar um homem tão espiritual que esteja desapegado de tudo. Pois o verdadeiro pobre de espírito e desprendido de toda criatura - quem o descobrirá? Tesouro precioso que é necessário buscar nos confins do mundo (Prov 31,10). Se o homem der toda a fortuna, não é nada. E se fizer grande penitência, ainda é pouco. Compreenda embora todas as ciências, ainda estão muito longe. E se tiver grande virtude de devoção ardente, muito ainda lhe falta, a saber: uma coisa que lhe é sumamente necessária. 

Que coisa será esta? Que, deixado tudo, se deixa a si mesmo e saia totalmente de si, sem reservar amor-próprio algum, e, depois de feito tudo que soube fazer, reconheça que nada fez. Não tenha em grande conta o pouco que nele possa ser avaliado por grande: antes, confesse sinceramente que é um servo inútil, como nos ensina a Verdade. Quando tiverdes cumprido tudo que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis (Lc 17,10). Então, sim, o homem poderá chamar-se verdadeiramente pobre de espírito e dizer com o profeta: Sou pobre e só neste mundo (Sl 24,16). Entretanto, ninguém é mais poderoso, ninguém mais livre que aquele que sabe deixar-se a si e a todas as coisas e colocar-se no último lugar.



(Imitação de Cristo - Tomás de Kempis)

Sábios conselhos... Fragmentos diários


Santifica tua Mocidade


Antes de tudo, incitar-te para Deus. Quando desejas mimosear tua amiga com uma rosa, certamente, não lhe envias uma flor sem viço, cujas pétalas caíram em parte, antes escolhe a rosa mais fresca, mais viçosa e mais olorosa do teu jardim; pois, somente esta será recebida com gratidão, enquanto a primeira será desdenhosamente rejeitada. Do mesmo modo deverá proceder, donzela cristã, para com teu Deus. A mocidade é o tempo mais belo, mais florescente mais alegre de tua vida. Assemelha-se à primavera, na qual, por toda parte, na natureza, se agita uma juventude forte e fresca; inúmeras flores abrem a doce corola, o céu azul sorri por cima de nossas cabeças e uma exalação aromática nos envolve. Assim sucede agora contigo.

Este tempo mais belo de tua vida não o deves negar a Deus, a quem tudo tens que agradecer, até a última gota de sangue de tuas veias e a menor fibra de teu coração; a Deus, para cujo serviço fosse criada e perante cujo tribunal hás de comparecer um dia, a fim de lhe prestar contas de toda tua vida, como também de tua mocidade; a Deus que te ama infinitamente e que encontra o Seu maior prazer nos serviços que lhe prestas na tua mocidade, e por isto Se inclina para ti cheio de graças e pede o teu amor sincero: “Minha filha, dá-me o teu coração”. (Prov. 23,26).

Em segundo lugar, o teu pensamento incitar-te para teus pais. Eles te amam ainda mais do que podes pressentir. Seu coração pulsa por ti, seu entendimento pensa e cuida de ti, suas mãos trabalham por ti. As camarinhas de suor que lhes deslizam pela face, equivalem ao teu bem-estar: os muitos, pequenos e grandes sacrifícios que tua mãe se impõe, todos os seus pensamentos e trabalhos, preces e sofrimentos são consagrados à tua felicidade. A tudo quanto teus pais fazem e sofrem por ti suas esperanças para o futuro; confiam que não te esqueças os seus benefícios, antes os compenses por teu excelente proceder; esperam que lhes enchas o coração de alegria e satisfação; que, um dia, quando chegarem à velhice, com as mãos a tremer e os pés a vacilar, sejas sem dúvida, o seu cajado, sobre o qual poderão apoiar-se com firmeza na sua caducidade. Não queres, porventura, satisfazer esta esperança de teus pais? Não queres ser grata ao seu grande amor e desvelo por ti? Perto que sim, porquanto possuis um coração nobre e leal.

 Conheces, porém, o melhor e mais seguro modo de manifestar essa gratidão a teus pais? Ei-lo: viver a vida cristã, distinguindo-te entre as companheiras de tua idade pela virtude e pureza de costumes, pela modéstia e diligência, sendo por todas, que te conhecem, altamente apreciada e honrada. Quando o souberem teus pais, sentir-se-ão altamente  ressarcidos de todos os cuidados e sacrifícios que houverem feito por ti.

Para isto deve finalmente o teu pensamento, em terceiro lugar, incitar-se para ti mesma.Quando alguém deseja construir uma casa que possa por longo tempo desafiar as mais violentas tempestades e dar segura proteção aos habitantes, deve, antes de mais nada, lançar um fundamento sólido, uma base firme, um bom alicerce. Se a base for construída sem o devido cuidado, é para se recear que um dia a casa venha abaixo, sepultando nos escombros os moradores.



(Donzela Cristã- Padre Matias De Bremscheid, Ano De 1935)

sexta-feira, 27 de maio de 2016

A boa escolha - Gustavo Corção



Entre os diversos fatores que constituem o sistema de fortificações da família está em primeiro lugar o da criteriosa escolha recíproca. Ao contrário do regime divorcista que a desvaloriza, rebaixando-a até o nível do capricho, a indissolubilidade exalta a importância da escolha. E reciprocamente, boa escolha é a melhor garantia da solidez do vínculo. 

O primeiro requisito de uma escolha feliz, a julgar pelo que incansavelmente repetem os observadores das almas, é o da maturidade dos pretendentes. O mundo moderno, com seu vertiginoso estilo de vida, está cheio de imaturos escondidos sob as aparências da compleição adulta. O que mais se encontra é a atrofia psicológica, geralmente acompanhada de atrofia moral. O que mais se vê a olhos vistos, num e noutro sexo, é a falta de integridade psíquica, é a incapacidade de resistir aos sopros da vida e de cumprir os compromissos tomados. Ou então é a vontade débil e vacilante que nem sabe querer o que quer. Ou ainda, como se dizia antigamente , é a falta de caráter. 

Os inquéritos feitos nos Estados Unidos para apurar a causa mais forte e mais frequente da infelicidade conjugal chegaram ao mesmo resultado : é na imaturidade psicológica dos cônjuges que reside essa causa. Mal formados, mal preparados, os moços se atiram com almas de crianças caprichosas num empreendimento que exige determinação e coragem. Antes das fraquezas trazidas pelas paixões, antes dos tropeços da infidelidade, o principal inimigo do casamento é a futilidade dos cônjuges. Mas por favor não se confunda maturidade com experiência da vida ou com adestramento técnico de economia doméstica. Uma pessoa pode ser inexperiente,pode e é bom que tenha a candura dos vinte anos sem ser o que se chama um imaturo.

Não é pelos dotes profissionais nem pelas prendas de dona de casa que se conhece a robustez de alma ;é pela capacidade de resistir e perseverar, e sobretudo pela capacidade de cumprir o que prometeu

Cuide pois a moça de escolher um homem que seja homem. Não apenas pelo metro e oitenta nem pela barba cerrada que podem perfeitamente ser adornos duma alma não crescida. Trate de escolher um homem viril, um homem feito, e não um imaturo, um hesitante que não sabe querer o que quer ou um fraco que procura instintivamente o regaço materno. E o moço, se quer família estável, procure a mulher que ainda tenha as fortes e obscuras virtudes de seu sexo.

Seria um erro funesto pensar que os critérios de escolha se devam limitar às considerações das qualidades e dos títulos dos pretendentes. Casamento é uma união pessoal e não uma simples conjugação de aptidões. Para ter maiores probabilidades de êxito é indispensável que as duas pessoas engajadas tenham aquela misteriosa afinidade que se traduz um afeto, em gosto recíproco, e em apaziguamento das almas. E foi para isso, para a decifração do segredo profundo das pessoas, que Deus acendeu nos corações a chama do belo amor.O mundo está cheio de casamentos doloridos, consequências de escolhas mal feitas.


(Gustavo Corção. Claro Escuro- Cap 8, a boa escolha.Coleção família: ensaios sobre casamento, divórcio, amor, e outros assuntos, 3°ed, 1963)

Sábios conselhos... Fragmentos diários


Como se deve evitar o juízo temerário


Relanceia sobre ti o olhar e guarda-te de julgar as ações alheias. Quem julga os demais perde o trabalho, quase sempre se engana e facilmente peca; mas, examinando-se e julgando-se a si mesmo, trabalha sempre com proveito. De ordinário, julgamos as coisas segundo a inclinação do nosso coração, pois o amor-próprio facilmente nos altera a retidão do juízo. Se Deus fora sempre o único objetivo dos nossos desejos, não nos perturbaria tão facilmente qualquer oposição ao nosso parecer.

Muitas vezes existe, dentro ou fora de nós, alguma coisa que nos atrai e em nós influi. Muitos buscam secretamente a si mesmos em suas ações, e não o percebem. Parecem até gozar de boa paz, enquanto as coisas correm à medida de seus desejos; mas, se de outra sorte sucede, logo se inquietam e entristecem. Da discrepância de pareceres e opiniões freqüentemente nascem discórdias entre amigos e vizinhos, entre religiosos e pessoas piedosas.

É custoso perder um costume inveterado, e ninguém renuncia, de boa mente, a seu modo de ver. Se mais confias em tua razão e talento que na graça de Jesus Cristo, só raras vezes e tarde serás iluminado; pois Deus quer que nos sujeitemos perfeitamente a ele e que nos elevemos acima de toda razão humana, inflamados do seu amor.

(Livro primeiro Cap XIV- Imitação de Cristo - Tomás de Kempis)

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Sábios conselhos... Fragmentos diários

Da utilidade das adversidades


Bom é passarmos algumas vezes por aflições e contrariedades, porque frequentemente fazem o homem refletir, lembrando-lhe que vive no desterro e, portanto, não deve pôr sua esperança em coisas alguma do mundo. Bom é encontrarmos às vezes contradições, e que de nós façam conceito mau ou pouco favorável, ainda quando nossas obras e intenções sejam boas. Isto ordinariamente nos conduz à humildade e nos preserva da vanglória. Porque, então, mais depressa recorremos ao testemunho interior de Deus, quando de fora somos vilipendiados e desacreditados pelos homens. Por isso, devia o homem firmar-se de tal modo em Deus, que lhe não fosse mais necessário mendigar consolações às criaturas. Assim que o homem de boa vontade está atribulado ou tentado, ou molestado por maus pensamentos, sente logo melhor a necessidade que tem de Deus, sem o qual não pode fazer bem algum. Então se entristece, geme e chora pelas misérias que padece. Então causa-lhe tédio viver mais tempo, e deseja que venha a morte livrá-lo do corpo e uni-lo a Cristo. Então compreende também que neste mundo não pode haver perfeita segurança nem paz completa.

Enquanto vivemos neste mundo, não podemos estar sem trabalhos e tentações. Por isso lemos no livro de Jó (7,1): É um combate a vida do homem sobre a terra. Cada qual, pois, deve estar acautelado contra as tentações, mediante a vigilância e a oração, para não dar azo às ilusões do demônio, que nunca dorme, mas anda por toda parte em busca de quem possa devorar (1 Pdr 5,8) . Ninguém há tão perfeito e santo, que não tenha, às vezes, tentações, e não podemos ser delas totalmente isentos. São, todavia, utilíssimas ao homem as tentações, posto que sejam molestas e graves, porque nos humilham, purificam e instruem. Todos os santos passaram por muitas tribulações e tentações, e com elas aproveitaram; aqueles, porém, que não as puderam suportar foram reprovados e pereceram. Não há ordem tão santa nem lugar tão retirado, em que não haja tentações e adversidades.

O princípio de todas a más tentações é a inconstância do espírito e a pouca confiança em Deus; pois, assim como as ondas lançam de uma parte a outra o navio sem leme, assim as tentações combatem o homem descuidado e inconstante em seus propósitos. O ferro é provado pelo fogo, e o justo pela tentação. Ignoramos muitas vezes o que podemos, mas a tentação manifesta o que somos. Todavia, devemos vigiar, principalmente no princípio da tentação; porque mais fácil nos será vencer o inimigo, quando não o deixarmos entrar na alma, enfrentando-o logo que bater no limiar. Por isso disse alguém: Resiste desde o princípio, que vem tarde o remédio, quando cresceu o mal com a muita demora (Ovídio). Porque primeiro ocorre à mente um simples pensamento, donde nasce a importuna imaginação, depois o deleite, o movimento; e assim, pouco a pouco, entra de todo na alma o malvado inimigo. E quanto mais alguém for indolente em lhe resistir, tanto mais fraco se tornará cada dia, e mais forte o seu adversário.



(Livro Primeiro - Cap XIII A Imitação de Cristo - Tomás de Kempis)

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Sábios conselhos... Fragmentos diários

Como se deve evitar a excessiva familiaridade




Não abras teu coração a qualquer homem (Eclo 8,22); mas trata de teus negócios com o sábio e temente a Deus. Com moços e estranhos conversa pouco. Não lisonjeies os ricos, nem busques aparecer muito na presença dos potentados. Busca a companhia dos humildes e simples, dos devotos e morigerados, e trata com eles de assuntos edificantes. Não tenhas familiaridade com mulher alguma; mas, em geral, encomenda a Deus todas as que são virtuosas. Procura intimidade com Deus apenas, e seus anjos, e foge de seres conhecidos dos homens. Caridade se deve ter para com todos; mas não convém ter com todos a familiaridade. Sucede, freqüentemente, gozar de boa reputação pessoa desconhecida que, na sua presença, desagrada aos olhos dos que a vêem. Julgamos, às vezes, agradar aos outros com a nossa intimidade, mas antes os
aborrecemos com os defeitos que em nós vão descobrindo.

Evita, quanto puderes, o bulício dos homens, porque muito nos perturbam os negócios mundanos ainda quando tratados com reta intenção; pois bem depressa somos manchados e cativos da vaidade. Quisera eu ter calado muitas vezes e não ter conversado com os homens. Por que razão, porém, nos atraem falas e conversas, se raras vezes voltamos ao silêncio sem dano da consciência? Gostamos tanto de falar, porque pretendemos, com essas conversações, ser consolados uns pelos outros e desejamos aliviar o coração fatigado por preocupações diversas.

Ordinariamente sentimos prazer em falar e pensar, ora nas coisas que muito amamos e desejamos, ora nas que nos contrariam. Mas ai! Muitas vezes é em vão e sem proveito, pois essa consolação exterior é muito prejudicial à consolação interior e divina. Cumpre, portanto, vigiar e orar, para que não passe o tempo ociosamente. Se for lícito e oportuno falar, seja de coisas edificantes. O mau costume e o descuido do nosso progresso espiritual concorrem muito para o desenfreamento de nossa língua. Ajudam muito, porém, ao aproveitamento espiritual os devotos colóquios sobre coisas espirituais, mormente quando se associam em Deus pessoas que pensam e sentem do mesmo modo.

(Livro Primeiro- Cap VIII e X , A Imitação de Cristo - Tomás de Kempis)

terça-feira, 24 de maio de 2016

Sábios conselhos... Fragmentos diários

Das afeições desordenadas


Todas as vezes que o homem deseja alguma coisa desordenadamente, torna-se logo inquieto. O soberbo e o avarento nunca sossegam; entretanto, o pobre e o humilde de espírito vivem em muita paz. O homem que não é perfeitamente mortificado facilmente é tentado e vencido, até em coisas pequenas e insignificantes. O homem espiritual, ainda um tanto carnal e propenso à sensualidade, só a muito custo poderá desprender-se de todos os desejos terrenos. Daí a sua freqüente tristeza, quando deles se abstém, e fácil irritação, quando alguém o contraria. 

Se, porém, alcança o que desejava, sente logo o remorso da consciência, porque obedeceu à sua paixão, que nada vale para alcançar a paz que almejava. Em resistir, pois, às paixões, se acha a verdadeira paz do coração, e não em segui-las. Não há, portanto, paz no coração do homem carnal, nem no do homem entregue às coisas exteriores, mas somente no daquele que é fervoroso e espiritual.



(Livro primeiro Cap, VI- A Imitação de Cristo - Tomás de Kempis)

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Sábios conselhos... Fragmentos diários

Ama a teu Deus e Salvador acima de tudo!



Ninguém, como Ele, é tão infinitamente amável. A beleza e elegância, a bondade e virtude, a perfeição e amabilidade de todos os homens nobres, de todos os bem aventurados e santos do céu, e até da própria Santíssima Virgem Maria, nada são, confrontadas com a bondade e perfeição de Deus. É como uma gota de água comparada com o imenso oceano, o qual não se pode atravessar com a vista, e que tão facilmente sustenta os maiores navios, como se fossem franzinas e leves palhas. Deus é infinitamente belo e nobre, infinitamente bom e perfeito, infinitamente digno de louvor e amor. Enche com Sua magnificência o céu em toda imensidade, arrebata com Sua beleza os espíritos mais sublimes do empíreo, inebriando-os de alegria e delícias inexprimíveis. Para Ele, certamente, o teu pequeno e imperfeito coração não é demasiado grande. Ama-O, portanto, de todo o coração, e com toda a força que puderes.


Nada há que tanto enobreça teu coração, como o amor de Deus! Este amor te defenderá contra o pecado, que desfigura e afeia o coração do homem. Com razão diz São Jerônimo: "Ama a Deus e faze depois o que quiseres". Tinha este santo à firme persuasão de que, ninguém pode amar a Deus e ofendê-lO deliberadamente: é impossível. Assegura-o o mesmo Divino Salvador: "Se alguém me ama guardará a minha palavra". (Jo.14,23). O amor de Deus fará teu coração propenso ao sacrifício. De fato: quem ama a Deus, deveras, se esforça para que os outros O conheçam sempre melhor e O amem mais intimamente. Todo sacrifício feito para este fim, parecer-lhe-á doce e santo dever. O amor de Deus infundirá em teu coração a coragem forte para as penosas dificuldades da vida. Este amor dará a tais penas uma quase consagração e na abnegada renúncia, elas encontrarão o seu aperfeiçoamento e coroa. Não é isto que nos atestam os grandes heróis do amor divino? Enfrentando todos os sofrimentos e dificuldades, não exclamam triunfantes São Paulo, o Apóstolo dos gentios: "Quem nos poderá separar do amor de Cristo?" (Rom. 8,35).

O amor de Deus, finalmente, fará teu coração bondoso e serviçal para com teu próximo. Se amares a Deus como te cumpre, verá então em cada homem a imagem de Jesus, o Filho querido de Deus, e amarás por causa de Deus, cumprindo a palavra do teu Divino Salvador: "Amarás a teu próximo como a ti mesmo" (Mt. 22,39). Visto que o amor de Deus exerce sobre ti salutar influxo, deves procurar aperfeiçoar-te de maneira particular nesta importante virtude. Acostuma-te a exercitar em ti freqüentes atos de amor de Deus; pela manhã, quando despertares; à noite, quando te entregares ao descanso; durante o dia, enquanto te dedicas a algum trabalho; e até mesmo nos momentos de folga, em que refazes as forças consumidas pela fadiga. Nas ocasiões em que está sozinha, deixa partir de teus lábios, ou ao menos pronuncia no teu íntimo estas palavras: 

"Ó, meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas, porque sois infinitamente bom, infinitamente perfeito e digno de amor. Ó meu Salvador, eu Vos amo sobre todas as coisas porque Vós me amastes infinitamente e me cumulastes de muitas graças." 

Acostuma-te a executar com prazer, por amor de Deus, os teus trabalhos diários e a aceitar de boa mente os dissabores. Renova, para tanto, muitas vezes as tuas boas intenções e propósito. Reforça e melhora freqüentemente o teu amor a Deus por meio de uma grande piedade para com o SS. Sacramento do Altar, no qual o Divino Salvador te dá à maior prova de amor. Visita, com prazer, o Senhor no Tabernáculo; assiste, se puderes, também nos dias úteis, ao santo sacrifício da Missa, recebe amiúde a sagrada Comunhão. Assim agindo, o teu amor a Deus, receberá sempre nova força e novo calor.

(Donzela Cristã - Padre Matias Bramscheid, 1935 p. 79)

domingo, 22 de maio de 2016

Sábios conselhos... Fragmentos diários

A mortificação 




É uma arma poderosíssima e é necessário utiliza-la com frequência, Os espinhos que dependem nosso lírio serão a mortificação, o sacrifício e a renúncia. "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo tome sua cruz e siga-me" (Mat., 16-24), disse Jesus.Para agradar ao Senhor portanto e triunfar sobre as paixões próprias, é absolutamente necessário dispor a vontade à mortificação ou castigos dos sentidos que queiram rebelar-se contra o  poder do espirito.

" É impossível - dizia Lacordaire - que um jovem possa recuperar sua inocência e conserva-la por muito tempo, se não corrigir severamente o culpado, se não conservar a soberania do espírito sobre a matéria mediante frequentes atos de abnegação.

Em consequência, devemos saber impor a nós mesmos de quando em quando uma pequena mortificação, especialmente, quando a sensualidade conseguiu alguma vitória, saber abraçar e sobrelevar os mil pequenos sacrifícios que a mesma vida apresenta todos os dias. Assim nos fortaleceremos. Quantas ocasiões de mortificar o amor próprio, de refrear a ambição, a língua, a curiosidade, as comodidades, entramos diariamente! São outras tantas florezinhas que a Jovem de boa vontade sabe recolher a cada instante, pode-se dizer, para oferecer um virtuoso ramalhete.

Procurar-se á receber humildemente uma repreensão, de responder com doçura quem lhe fala com insolência, de reprimir uma palavra ofensiva ou de calar ante uma acusação injusta, de madrugar pela manhã, de abster-se de comer um doce, um pouco de fruta fora da refeição ou de suportar sem queixas a sede, o frio, o calor.

Não se cansa, não, a jovem prudente no seu caminho coberto de renuncias e de sacrifícios porque não há prazer semelhante ao que se experimenta quando triunfamos sobre nós mesmos. É a mortificação uma fonte de virtude, de fervor e alegria espiritual. Ah! se todos conhecessem esse segredo! Conseguiram os sentidos levar vantagem? Castiga-lo-emos com alguma penitencia; por  pequena que seja, produzirá bom efeito. Renunciar a uma diversão, recolher a vista por instantes, não recortar-se ao sentar...

São pequenas mortificações que levantarão uma fortaleza segura ao redor do lírio da pureza Recomenda-se de modo particular a mortificação dos olhos, quantas vezes por essa janela penetra na alma à morte. Saibamos reprimir nossa curiosidade. Um dia perguntaram a um Santo porque não olhava no rosto da pessoa com quem falava, ele respondeu:  


"Falo com a língua e não com os olhos..." Uma replica muito sábia, aliada à simplicidade.

(Por Gisele Maria, trechos do livro Sê Pura 4° Edição)

sábado, 21 de maio de 2016

Da leitura das Sagradas Escrituras



Nas Sagradas Escrituras devemos buscar a verdade, e não a eloquência. Todo livro sagrado deve ser lido com o mesmo espírito que o ditou. Nas Escrituras devemos antes buscar nosso proveito que a sutileza da linguagem. Tão grata nos deve ser a leitura dos livros simples e piedosos, como a dos sublimes e profundos. Não te mova a autoridade do escritor, se é ou não de grandes conhecimentos literários; ao contrário, lê com puro amor a verdade. Não procures saber quem o disse; mas considera o que se diz.

Os homens passam, mas a verdade do Senhor permanece eternamente (Sl 116,2). De vários modos nos fala Deus, sem acepção de pessoa. A nossa curiosidade nos embaraça, muitas vezes, na leitura das Escrituras; porque queremos compreender e discutir o que se devia passar singelamente. Se queres tirar proveito, lê com humildade, simplicidade e fé, sem cuidar jamais do renome de letrado. Pergunta de boa vontade e ouve calado as palavras dos santos; nem te desagradem as sentenças dos velhos, porque eles não falam sem razão.

Livro primeiro, Capitulo V (Imitação de Cristo - Tomás de Kempis)

Sábios conselhos... Fragmentos diários


Amor a ordem e a pontualidade


Deus confiou à mulher um encargo duplamente importante: santificar a família por sua vida e trabalhos, e dar aos filhos primeira educação. Cumpra ela, conscienciosamente, esse dever, e grande cópia de graças fará fluir sobre a humanidade. Para torná-la apta à sua missão, comunicou-lhe o Criador, a par de outros dons, o amor à ordem e a atenção às coisas pequenas. Exercitar retamente este amor à ordem é, portanto, um dever que Deus exigirá, principalmente dela.

A ordem agrada, agrada, principalmente, a Deus, Deus ama a ordem, porque Ele mesmo é ordem, a mais maravilhosa e a mais amável harmonia. Unem-se nEle as três Pessoas, numa perfeita unidade de substância; nEle estão todos os atributos em perfeita consonância entre si - a justiça com a misericórdia, a onipotência com a bondade, a majestade com a assombrosa singeleza de Seu amor; todos os Seus atributos infinitos forma a unidade absolutamente perfeita do Seu Ser, numa ordem e harmonia inconcebíveis. Não há nEle a menor sombra de desordem ou dissonância.

Assim como Deus ama a ordem, também tu deves ter sempre em vista um método em tua vida e nos teus trabalhos, seguindo assim a admoestação do Apóstolo dos gentios: "Faça-se tudo decentemente e com ordem". (I Cor. 14,40). A ordem agrada também aos homens.

Sucederá, precisamente, o contrário se faltares em tudo á pontualidade e não guardares a ordem em teus trabalhos. Sobrevir-te-ão reclamações sobre reclamações e ninguém ousará confiar-te coisa alguma de importância. A ordem também é útil e saudável. Sem o amor à ordem não existe verdadeira e sólida virtude. Com efeito: que é a virtude? Em sentido estrito, é o desembaraço, adquirido pelo exercício no querer e fazer o bem. Basta ter em vista definição para reconhecer que a verdadeira virtude não tolera a desordem para que a vida de virtudes produza em ti frutos preciosos, necessitas da presença da graça, comunicada por meio da oração e dos santos Sacramentos. Se procederes segundo a tua vontade e capricho, serás como a pobre flor, que o jardineiro desleixado rega, tão desordenadamente. 

(Donzela Cristã - Padre Matias de Bramscheid, 1935 p. 73)


sexta-feira, 20 de maio de 2016

Do humilde sentir de si mesmo


Todo homem tem desejo natural de saber; mas que aproveitará a ciência, sem o temor de Deus?Melhor é, por certo, o humilde camponês que serve a Deus, do que o filósofo soberbo que observa o curso dos astros, mas se descuida de si mesmo. Aquele que se conhece bem se despreza e não se compraz em humanos louvores. Se eu soubesse quanto há no mundo, porém me faltasse a caridade, de que me serviria isso perante Deus, que me há de julgar segundo minhas obras.

Renuncia ao desordenado desejo de saber, porque nele há muita distração e ilusão. Os letrados gostam de ser vistos e tidos por sábios. Muitas coisas há cujo conhecimento pouco ou nada aproveita à alma. E mui insensato é quem de outras coisas se ocupa e não das que tocam à sua salvação. As muitas palavras não satisfazem à alma, mas uma palavra boa refrigera o espírito e uma consciência pura inspira grande confiança em Deus.

Quanto mais e melhor souberes, tanto mais rigorosamente serás julgado, se com isso não viveres mais santamente. Não te desvaneças, pois, com qualquer arte ou conhecimento que recebeste. Se te parece que sabes e entendes bem muitas coisas, lembra-te que é muito mais o que ignoras. Não te presumas de alta sabedoria (Rom 11,20); antes, confessa a tua ignorância. Como tu queres a alguém te preferir, quando se acham muitos mais doutos do que tu e mais versados na lei? Se queres saber e aprender coisa útil, deseja ser desconhecido e tido por nada. Não há melhor e mais útil estudo que se conhecer perfeitamente e desprezar-se a si mesmo. Ter-se por nada e pensar sempre bem e favoravelmente dos outros, prova é de grande sabedoria e perfeição. Ainda quando vejas alguém pecar publicamente ou cometer faltas graves, nem por isso te deves julgar melhor, pois não sabes quanto tempo poderás perseverar no bem. Nós todos somos fracos, mas a ninguém deves considerar mais fraco que a ti mesmo.


Livro primeiro- Capitulo II (Imitação de Cristo - Tomás de Kempis)