sexta-feira, 27 de maio de 2016

A boa escolha - Gustavo Corção



Entre os diversos fatores que constituem o sistema de fortificações da família está em primeiro lugar o da criteriosa escolha recíproca. Ao contrário do regime divorcista que a desvaloriza, rebaixando-a até o nível do capricho, a indissolubilidade exalta a importância da escolha. E reciprocamente, boa escolha é a melhor garantia da solidez do vínculo. 

O primeiro requisito de uma escolha feliz, a julgar pelo que incansavelmente repetem os observadores das almas, é o da maturidade dos pretendentes. O mundo moderno, com seu vertiginoso estilo de vida, está cheio de imaturos escondidos sob as aparências da compleição adulta. O que mais se encontra é a atrofia psicológica, geralmente acompanhada de atrofia moral. O que mais se vê a olhos vistos, num e noutro sexo, é a falta de integridade psíquica, é a incapacidade de resistir aos sopros da vida e de cumprir os compromissos tomados. Ou então é a vontade débil e vacilante que nem sabe querer o que quer. Ou ainda, como se dizia antigamente , é a falta de caráter. 

Os inquéritos feitos nos Estados Unidos para apurar a causa mais forte e mais frequente da infelicidade conjugal chegaram ao mesmo resultado : é na imaturidade psicológica dos cônjuges que reside essa causa. Mal formados, mal preparados, os moços se atiram com almas de crianças caprichosas num empreendimento que exige determinação e coragem. Antes das fraquezas trazidas pelas paixões, antes dos tropeços da infidelidade, o principal inimigo do casamento é a futilidade dos cônjuges. Mas por favor não se confunda maturidade com experiência da vida ou com adestramento técnico de economia doméstica. Uma pessoa pode ser inexperiente,pode e é bom que tenha a candura dos vinte anos sem ser o que se chama um imaturo.

Não é pelos dotes profissionais nem pelas prendas de dona de casa que se conhece a robustez de alma ;é pela capacidade de resistir e perseverar, e sobretudo pela capacidade de cumprir o que prometeu

Cuide pois a moça de escolher um homem que seja homem. Não apenas pelo metro e oitenta nem pela barba cerrada que podem perfeitamente ser adornos duma alma não crescida. Trate de escolher um homem viril, um homem feito, e não um imaturo, um hesitante que não sabe querer o que quer ou um fraco que procura instintivamente o regaço materno. E o moço, se quer família estável, procure a mulher que ainda tenha as fortes e obscuras virtudes de seu sexo.

Seria um erro funesto pensar que os critérios de escolha se devam limitar às considerações das qualidades e dos títulos dos pretendentes. Casamento é uma união pessoal e não uma simples conjugação de aptidões. Para ter maiores probabilidades de êxito é indispensável que as duas pessoas engajadas tenham aquela misteriosa afinidade que se traduz um afeto, em gosto recíproco, e em apaziguamento das almas. E foi para isso, para a decifração do segredo profundo das pessoas, que Deus acendeu nos corações a chama do belo amor.O mundo está cheio de casamentos doloridos, consequências de escolhas mal feitas.


(Gustavo Corção. Claro Escuro- Cap 8, a boa escolha.Coleção família: ensaios sobre casamento, divórcio, amor, e outros assuntos, 3°ed, 1963)

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